As transformações que ocorreram a partir da segunda metade do século XX, com o desenvolvimento das Tecnologias da Informação e Comunicação; o crescimento acelerado da Internet e do número dos seus utilizadores e a explosão de produção documental em suporte electrónico desencadeou a criação de bibliotecas digitais.
A definição mais recente e acessível de biblioteca digital é a seguinte (Leiner, 1998): “ Uma biblioteca digital é a colecção de serviços e a colecção de objectos de informação, sua organização, estrutura e apresentação, que suporta o relacionamento dos utilizadores com os objectos de informação, disponíveis directa ou indirectamente via meio electrónico/digital”.
O que é necessário para construir uma biblioteca digital? Em primeiro lugar, necessita de conteúdo, isto é, material antigo convertido em formato digital ou material novo, já digitalizado. Os passos seguintes assemelham-se ao da biblioteca tradicional: uma organização centrada no utilizador, distribuição e preservação dos recursos informacionais. Algumas das vantagens das bibliotecas digitais são: redução dos custos de aquisição; inexistência de barreiras geográficas e temporais; variedade de formatos de informação; acesso simultâneo de um número infinito de utilizadores; importante papel na preservação dos documentos e facilidade de acesso aos deficientes. Contudo, há que ter em conta que o desenvolvimento das bibliotecas digitais implica a superação de alguns obstáculos que passo a mencionar: a inexistência de infra-estruturas técnicas que suportem o acesso e a difusão dos seus serviços; a complexidade dos sistemas de informação pode conduzir à info-exclusão e o perigo relacionado com os direitos de autor e copyrights. Apesar da biblioteca digital apresentar algumas limitações é de prever que estas sejam superadas a curto prazo. Sendo assim, a biblioteca digital é lato sensu, uma realidade em evolução, pois cada vez mais instituições de renome investem nesta ferramenta de pesquisa. A Comissão Europeia lançou a 20 de Novembro de 2008, a Europeana, a biblioteca digital europeia que conta com dois milhões de objectos digitais (filmes, pinturas, sons, mapas, livros, manuscritos e etc), provenientes de 1000 instituições europeias. A 21 de Abril deste ano, a UNESCO, a Biblioteca do Congresso Americano e a Biblioteca de Alexandria, numa iniciativa conjunta disponibilizaram aos utilizadores a Biblioteca Digital Mundial. A plataforma inclui material cultural único, oriundo de bibliotecas e arquivos de todo o mundo.
Em Portugal, onde o hábito de utilização das bibliotecas é relativamente reduzido e muitos utilizadores apresentam distintas formações culturais e diferentes níveis de competências informáticas, o acesso às bibliotecas digitais constituem um desafio. A intervenção acrescida dos profissionais da informação e a formação de utilizadores constitui a solução para a transmissão de métodos e técnicas de pesquisa, localização, selecção e manipulação dos objectos digitais. Outra questão fulcral que se coloca é a seguinte: como será a relação entre biblioteca tradicional e a biblioteca digital? Penso que as duas coexistirão, porém a biblioteca tradicional terá que enfrentar um grande desafio, responder mais eficazmente às necessidades dos seus utilizadores. Os esforços já começaram, pois a IFLA (International Federation of Library Associations) publicou recentemente recomendações que vêm complementar o Manifesto da UNESCO sobre Bibliotecas Públicas de 1994. Estas recomendações assinalam precisamente o importante papel da biblioteca, no universo digital, em constante mudança.
Concluindo, as iniciativas de implementação e utilização de bibliotecas digitais são essenciais para a disseminação, divulgação da informação em geral e promoção da investigação científica, a nível mundial. Todavia, será necessário instituir uma política conjunta de direitos de autor para que as bibliotecas digitais possam sobreviver legalmente.
Artigo de Cláudia Lopes, publicado na revista Leia SFF
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